sábado, 8 de abril de 2017

O conformismo dentro da Pedagogia


Conformismo: caráter social

Há alguns meses tenho me feito uma série de questionamentos acerca de uma problematização envolvendo a Pedagogia e as relações antropológicas e filosóficas que norteiam nosso dia a dia e cheguei à uma conclusão clara e objetiva de que havia algo errado entre os campos do saber e a epistemologia do pensamento categorial proposto por Henri Wallon (1879 - 1962). Se o aluno tem seu pensamento sincrético aguçado na primeira infância e muitos permanecem com esse mesmo pensamento nos ensinos fundamental e médio, saibam que esse mesmo pensamento permanece no ensino superior por alunos que não compreendem apenas uma palavra para a série de questionamentos que acerca a minha dúvida sobre a problematização envolvendo a Pedagogia e as relações envolvendo a Antropologia e a Filosofia. Esses dias, em um debate sobre a Educação do Futuro realizada pelos professores e alunos de uma escola municipal, ouvi de uma garota de ensino superior dizendo que só queria saber do diploma para se sentir formada na Pedagogia. Eis que uma professora, prestes a se aposentar e tentando reverter esse quadro, instaurou uma gafe que poderia passar batido, não fosse sua insistência em querer debater com a jovem universitária. Essa professora disse que os alunos precisam estar atentos aos movimentos dos professores e seguindo seus passos para construírem um futuro melhor. Até aqui tudo tranquilo. Mas ela ainda emendou: não podemos deixar nossos alunos dominarem a gente, nós é quem precisamos dominá-los. Aqui houve um grande embate envolvendo duas categorias sincréticas em um mesmo âmbito: a jovem universitária que se formará em Pedagogia e que não está se importando com a qualidade de ensino, com o desenvolvendo de seus alunos e muito menos com a fase antropológica do Brasil. De outro lado, uma senhora professora que cisma em dizer que seus alunos precisam aprender pelos passos lentos de seus ensinamentos, com base teórica no Magistério.
            E eu estava no meio desse embate, ouvindo uma e outra, a jovem e a senhora, o amanhã e o ontem. Aquilo foi norteador para que eu pudesse acreditar que, além de estarmos formando futuros péssimos educadores, estou presenciando aquilo que eu mais detesto: o conformismo.  Acredito eu que o jovem universitário precisa, urgentemente, estar atento às demandas atuais e antigas das leis pedagógicas e que é preciso haver a leitura e o estudo sistemático de conteúdos embasados dentro e fora dos muros escolares, estudando a cidade, o país e o mundo, dando continuidade à Educação Formal e Não Formal, conhecendo teóricos e suas teorias e analisando suas práticas como sendo algo importantíssimo para o crescimento pessoal e profissional de seus pequenos alunos. Isso se chama visão de mundo. E o professor que o têm na certa conseguirá ser melhor reconhecido em sua área.

            O pensamento categorial persiste em ser um pensamento sincrético tanto por parte de muitos alunos universitários que estão prestes a mudar esse conceito de educação básica e persiste em muitos professores que vieram de um Magistério e que acham que nada mais pode ser mudado. O conformismo domina essa situação, pois dá a entender que nada mais pode ser feito. Digo isso também em relação às salas de aulas das faculdades brasileiras. Pergunte a um aluno o que ele aprendeu sobre Filosofia quando esteve no terceiro semestre e hoje ele está prestes a se formar. A resposta será péssima, porque ele não está interessado em saber sobre a Filosofia, muito menos em Antropologia ou Sociologia. Pergunte a outro aluno qual a teoria que envolve as práticas de alfabetização de Paulo Freire (1921 – 1997) e muitos alunos hão de dizer que não se aprofundaram nessa disciplina. Perguntar sobre Cèlestin Freinet (1896 – 1966) é como fazer uma ofensa. Os alunos universitários não estão preparados para ofertarem uma qualidade de ensino. Não estão preparados para lerem as leis pedagógicas, as normas da base nacional comum curricular, as estruturas da organização escolar, a filosofia de Sócrates, a antropologia de Darcy Ribeiro (1922 – 1997), o socialismo de Zygmund Bauman (1925 – 2017), a escola-nova de John Dewey (1859 – 1952). E mal sabem eles que o futuro do Brasil está em suas mãos. Mãos essas que são frágeis, permeáveis, vulneráveis e homeopáticas.  O conformismo categorial que sintetizo no campo do saber é tão monogâmico, permanentemente monossílabo e atuantemente devastador. O aluno universitário não quer aprender, não quer pesquisar, não quer ir além, mas quer passar de semestre, quer atuar no campo da Educação, quer ser chamado de Professor/Educador/Pedagogo.
            O professor das antigas, termo este que abomino, mas que aqui no artigo prevalece como exemplificação, precisa rever seus conceitos perante a educação de seus alunos e perante a vida interpessoal dos mesmos. O professor das antigas precisa, urgentemente, de uma reciclagem perene e empírica, que consiste em uma demanda de passagem de oportunidades para aqueles que querem seguir carreira na Educação e não ficarem fazendo dois tipos de serviços de péssima qualidade: 1) desmistificar o novo professor e 2) achar que seus argumentos educativos é o que prevalecem no campo semântico do saber. Precisamos mudar esse cenário e, para evitarmos o conformismo com relação a esses profissionais, precisamos de uma reciclagem não mecanizada para consumo próprio de conhecimento sistemático.

  • A unanimidade do grupo, isto é, quanto mais de acordo o grupo tiver entre si, maior vai ser o conformismo, mas basta haver no grupo uma pessoa que discorde do grupo para os efeitos de conformismo serem menores. No exemplo que está no inicio do tema, bastava que uma pessoa do grupo emitisse uma opinião diferente da maioria para nós termos mais vontade e avontade de manifestar a nossa.
  • A natureza da resposta, ou seja, o conformismo aumenta quanto a resposta é dada publicamente, pois, a resistência da maioria é maior quando á privacidade é assegurada.
  • A ambiguidade da situação significa que a pressão a que estamos submetidos aumenta, quando não estamos certos da nossa opinião e não estamos num contexto que dominamos, gera-se a duvida e a insegurança e assim o conformismo surge mais facilmente.
  • A importância do grupo, isto é, quanto mais importante para a pessoa o grupo for, maior é a possibilidade de esta se conformar para se poder integrar no grupo.
  • A autoestima, ou seja, as pessoas que têm uma autoestima elevada têm mais a vontade, facilidade e independência para exprimir a sua opinião do que aquelas que têm uma autoestima baixo.


            Não quero que meu aluno seja uma tábula rasa proposta por John Locke (1746 – 1827) e contemplada por Cagliari (1945). Quero que meu aluno tenha a autonomia plena de seus atos e que possa estar em uma sala de aula em que há o pedocentrismo. Trocando em miúdos, quero que meu aluno tenha a palavra conformismo longe de seu vocabulário.

O conformismo na Pedagogia

Por Marcelo Teixeira