quarta-feira, 22 de março de 2017

A Língua Portuguesa e a Pedagogia


Respeitem à Língua Pátria!
Ainda não consegui entender muito bem o porquê as salas do curso de Pedagogia vivem lotadas de alunos durante os 7 ou 8 semestres que o curso requisita. Ainda não consegui entender a mecânica dessas cabeças ditas pensantes que se arriscam a estudar Pedagogia, sabendo que muitos dos que ali estão jamais serão professores com uma categoria exemplar.  Paulo Freire (1967) já dizia que a intencionalidade do Pedagogo é amar gente, amar o próximo e atender às suas necessidades para que possa haver uma transformação naquele meio e o que vejo é justamente o contrário quando converso com pessoas que batem no peito e exclamam: você está falando com um futuro Pedagogo! É preciso certo entendimento disso tudo. Vamos começar com a Língua Portuguesa. Qual a relação da Língua Portuguesa com a Pedagogia? TODAS! Mesmo tendo professor universitário dizendo que não há elo entre as duas vertentes do ensinamento, eu cismo em dizer que há, pois uma complementa a outra. Sem  a Língua Portuguesa não somos nada e é muito complicado e humilhante um futuro pedagogo dizer nós vamos vim até aqui amanhã ou, na pior das hipóteses sonoras, ouvir: a gente foi fazer um trabalho pedagógico na casa da Maria e depois nós vai pro trabalho. Eu me pergunto: estou no curso certo? Estudo Pedagogia e, antes de qualquer coisa, sou um apaixonado pela Língua Portuguesa e, como bem disse Emília Ferreiro (1996) o professor precisa amar as palavras. Ferreiro também abomina os códigos, artifícios esses que muitos professores universitários adoram e aplaudem. Quando digo códigos, refiro-me às novas normas digitais que os jovens implantaram por meio das tabelas e plataformas digitalizadas como vc (você), tb (também), qlq (qualquer), etc. Sou radical demais? O que mais vejo e sintetizo nos futuros pedagogos é uma falta de decoro particular tremenda, irremediável e nada interessante nas formas e nas atemporalidades incultas disfarçadas de professores futuros de uma Nação. Como pedir respeito se a sua língua pátria os trai? Como pedir respaldo pedagógico se a escrita não lhes confere à altura de uma caligrafia fina e nada cursiva? A formação completa do pedagogo é mediada pela sua postura ética e atitude moral e com essa bagagem carrega-se a língua portuguesa a tiracolo, sendo nossa arma contra os ataques políticos, contra os dois pés em nossos peitos de pais que pensam que estão falando com qualquer um, sabendo eles que não sabem um por cento dos 4 anos em que nos dedicamos à Pedagogia. Não se trata, por minha parte, de um ato de rebeldia e egocentrismo, mas para evitarmos esses pormenores é preciso termos como nossa aliada a norma culta da Língua e, com isso, os conhecimentos necessários que todo bom pedagogo necessita. Ou seremos sempre tachados de arrogantes e ignorantes? Precisamos de uma ideologia! Mario Sergio Cortella (2013) explana muito bem essa ideologia em quando diz termos como escrever para apaziguar ou tenta nos entreter ou nos alertar quando se refere a sociedade da exposição, em que as dicotomias por vias de uma simbolização se faz presente: eu estudo Pedagogia, mas não me interessa como conquistei o meu diploma.  Há uma problematização aqui: os futuros pedagogos não querem ler, não querem dissertar sobre um texto, não conversam ou não entendem sobre política, não sabem dialogar sobre um livro do Cortella, mas mesmo assim, o acham o máximo e adoram seus livros. É assim que me vejo muitas vezes em uma sala: como se estivesse enjaulado com inúmeros pseudos-pedagogos que não conseguem soletrar o próprio nome. A Língua Portuguesa não visa apenas o professor para que este ensine seus alunos no ato de alfabetizar ou letrar, mas sim, viabilizar para uma gestão educacional rica em detalhes homéricos, onde a legitimidade será retórica e a propriedade com o recurso será de tamanha índole. Mas para que isso possa de fato acontecer, precisamos colocar as cabeças nos livros. Precisamos ler mais Machado de Assis, ler Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Vinicius de Moraes, Ruth Rocha e atender às necessidades emergenciais dos ensaios de Karnall, Pondé, Cortella. É preciso mudar radicalmente o andar da caminhada ou então teremos futuros pedagogos ensinando que farsa escreve-se com Ç e não com S.

Referências:

FREIRE, Paulo; Pedagogia do Oprimido, 60º Ed. São Paulo, Paz&Terra, 2016, 286 pags

FERREIRO, Emilia; Reflexões sobre Alfabetização, 26º Ed. São Paulo, Cortez Editora, 2010, 104 pags

CORTELLA, Mario Sergio; O que a vida me ensinou, 6º Ed. São Paulo, Editora Saraiva, 2013, 109 pags.


A Língua Portuguesa e a Pedagogia
Por Marcelo Teixeira